Mensagem de Frei Alzinir F. Debastiani, ocd.
Olvido do que é criado,
memória do Criador,
atenção ao interior
e estar amando o Amado.
Estes 4 versos da Suma de perfeição de S. João da Cruz contém 4 conselhos que, além de formar um conjunto harmonioso, anunciam o programa de vida espiritual. Cada verso supõe o anterior, que o complementa e leva a entender o seu sentido. No final, culminando assim com o objetivo dos seus demais escritos, João quer levar à união com Deus pelo amor, o exercício constante de amar ao Amado.
Olvido do que é criado
O esquecimento das criaturas que pede aqui o Santo é aquele afetivo, desapegar-se das criaturas segundo o afeto, de forma que o apego às criaturas, às recordações, etc., deixem na alma o vazio, a fim de que Deus possa preenchê-la com sua Presença. Assim o havia recomendado: “para viver em inteira e pura esperança de Deus, é mister, todas as vezes que ocorrerem notícias, formas ou imagens distintas, não se deter nelas, mas elevar-se a Deus no vazio de todas essas lembranças, com afeto amoroso, sem reparar em tais coisas senão para entender e cumprir o que é de obrigação, no caso de serem relativas a seus deveres. Mesmo assim é necessário não pôr o afeto e gosto naquilo que lhe vem à memória, para não ficar efeito na alma. Deste modo, não deve deixar de ocupar o pensamento em lembrar-se do que é obrigada a saber e a fazer, pois não tendo nisso propriedades em apego, não lhe será prejudicial. As sentenças encontradas no fim do capítulo 13 do primeiro Livro, e escritas no "Monte", poderão ser-lhe úteis nesse trabalho de despojamento” (3 Subida 15,1).
Memória do Criador
Servir-se das criaturas para ir ao Criador delas, significa ter presente que Deus as transcende, é muito superior a elas. Este cuidado, sustentado pela virtude da esperança faz com que a alma “não se engolfe em coisa alguma deste mundo, e não haja lugar por onde os possa ferir alguma seta deste século. Só deixa à alma uma viseira, a fim de poder levantar os olhos para cima, e nada mais. Tal é, ordinariamente, o ofício da esperança dentro da alma, — levantar os seus olhos para olhar somente a Deus, como diz Davi: "Meus olhos estão sempre voltados para o Senhor" (Sl 24,15). Não esperava bem algum de outra parte, conforme ele mesmo diz em outro Salmo: "Assim como os olhos da escrava estão postos nas mãos da sua senhora, assim os nossos estão fixados sobre o Senhor, nosso Deus, até que tenha misericórdia de nós" (Sl 122,2). Assim, quando a alma se reveste da verde libré da esperança, — sempre olhando para Deus, sem ver outra coisa nem querer outra paga para o seu amor a não ser unicamente ele, — o Amado, de tal forma nela se compraz, que, na verdade, pode-se dizer que a alma dele alcança tanto quanto espera” (2 Noite 21,7).
Atenção ao interior

e estar amando o Amado
A atenção ao interior leva à descoberta do Amor primeiro do esposo Cristo (Cântico 31,2), a quem a pessoa responde com o exercício do amor a Deus e ao próximo. “Com efeito, a saúde da alma é o amor de Deus; ora, quando a alma não tem perfeito amor de Deus, não tem perfeita saúde; ... Por consequência, é necessário saber que o amor jamais chegará à perfeição até que se juntem os amantes em unidade, transfigurando-se um no outro; só então estará o amor totalmente perfeito. A alma, nesta canção, sente em si mesma certo debuxo de amor, e deseja que ele se acabe de pintar, com essa figura apenas debuxada que é seu Esposo, o Verbo Filho de Deus... Esta é a figura que aqui compreende a alma, e nela deseja transfigurar-se por amor; e, por isto, exclama: "Olha que esta doença de amor jamais se cura, a não ser com a presença e com a figura” (Cântico 11,11-12). Faz parte do amor ser dinâmico, sair de si, pois “o amor nunca está ocioso, mas em contínuo movimento, e, como fogo em chamas, está sempre levantando labaredas aqui e ali; e sendo o ofício do amor ferir para enamorar e deleitar, como nessa alma ele se acha em viva chama, está sempre lhe causando suas feridas, quais labaredas terníssimas de delicado amor” (Chama 1,8). Ao Amor, responde-se com amor.
A este fim da união de amor com Deus quer levar-nos S. João da Cruz (Cântico 39,4); é o fim para o qual fomos criados. Por isso viver a Suma de perfeição implica em exercitar-se esta virtude, tão central na vida, a fim de viver no seu constante exercício (cf. Cântico 28).
Boa festa do Santo Padre João da Cruz!
Fr Alzinir F Debastiani OCD
Roma, dezembro 2017
(Cf.: José Vicente Rodriguez, El mirar de Dios es amar. Burgos, Monte Carmelo 2007, p. 115-128).
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