1542 – Fontiveros, Povoado entre Medina e Salamanca - Nasce João, filho de Gonçalo de Yepes e Catarina Alvarez. Caçula. Seus irmãos: Francisco e Luís.
Foi Francisco, irmão de João, quem fez um relato do primeiro período de sua vida. Suas origens, o difícil começo, vida em família até os 21 anos.
Daí, mesmo sendo um relato simples, podemos traçar seu perfil psicológico e espiritual.
-Dificuldades - fracassa nos trabalhos manuais: pintor, entalhador, alfaiate - quer ajudar nas finanças, mas não consegue.
_ Três qualidades - religiosidade, o amor e serviço aos doentes e dedicação aos estudos.
_ Piedoso - coroinha, futuro contemplativo.
_ Serviço aos doentes terminais – tuberculose, malária, sífilis, peste... - Hospital de Las Bubas, em Medina Del Campo.
_ Dedicação aos estudos - aproveitava o tempo para estudar - costumava estudar à noite no depósito de lenha (na época do hospital).
Dos 17 aos 21 anos - colégio dos Jesuítas.
O hospital o queria como capelão e os jesuítas o queriam pelos seus dotes intelectuais e de piedade. Aos 21 anos - 1563 - fim do Concílio de Trento, escolhe o Carmelo (Medina).
(Concílio de Trento – Concílio da contra reforma – mais longo – cidade de Trento – Itália – 1545 – 1563). Tópicos de discussão: Protestantismo/combater. Reforma da Igreja Católica, confirma a presença de Cristo na Eucaristia, superioridade do Papa, seminários, reorganização da Inquisição, salvação, obrigações dos bispos.
Por que João da Cruz escolhe o Carmelo? Espírito contemplativo e piedade mariana.
1563 – Recebe o hábito religioso dos carmelitas.
1564 - professa com o nome de Frei João de São Matias.
1564 - Salamanca - Somente nove léguas de Salamanca, mas muito distante daquele ambiente de aulas. Foi cursar Filosofia e Teologia. Universidade no momento auge.
Mora no convento de Santo André - João sofre muito. Não está contente. Ambiente do convento mais acadêmico que contemplativo. Só se fala em cátedras, promoções, remunerações... João sofre, trabalha, silencia.
A crise não é vocacional, mas onde vivê-la?
Decide entrar para a Cartuxa.
1567 - Encontra padre Rubeo, geral da ordem, em fevereiro e Madre Teresa em outubro. Tentam tirá-lo da crise Padre Rubeo não o convence.
Teresa 52 anos e João 25anos e recém sacerdote. Teresa o convence a iniciar a reforma masculina, e a fundar, com sua ajuda, o convento de Duruelo. João da Cruz, agora é o seu nome.
Comunidade formada por padre Antônio de Jesus, Frei José de Cristo e João da Cruz.
Pacto - não contar a ninguém da experiência de Duruelo. Nem na hora de sua morte permitiu tal coisa.
1567 – Ordenação sacerdotal
1568 – encontra-se em Valladollid com Teresa para acertar a fundação das monjas.
Espírito da reforma - mais oração, austeridade de vida, vida fraterna e recreação, atividade pastoral moderada.
1568 a 1572 – Formador dos descalços. Forma e é formado, ensina e aprende, ajuda e é ajudado. Assim pensava e agia João da Cruz. Sua atividade preferida era ser mestre, formador. Dizia ser um “amadurecimento compartilhado” (Frederico Ruiz – Místico e Mestre SJC). Gostava mais de falar, orientar, do que de escrever: “Ainda que falasse dias e noites sobre N. Senhor, não se cansava nem se cansaria, desde que os que o ouvissem não se cansassem” (Pr 378)
1572 a 1577- Formador das monjas, confessor do Mosteiro da Encarnação a pedido de Madre Teresa. Está agora com 30 anos. Estreita os laços de amizade com a priora Madre Teresa. "Tão diferentes e tão complementares".
1575/1576 – Considerado incômodo, rebelde. Prisioneiro em Medina, libertado em seguida.
1577/1578 - Prisão - Após 14 anos de sua entrada para o Carmelo é seqüestrado e encarcerado na prisão do convento de Toledo, em um cubículo, sem ar e sem luz. Estava na metade de sua vida religiosa - morre 14 anos após o cárcere.
É amarrado, arrastado, olhos vendados. Não por terroristas criminosos, mas por freis carmelitas calçados, seus irmãos. Sofre fome, sede, frio. Passava a pão e água. Ajoelhado recebia açoites nas costas e às vezes até mais do que mandava o castigo, dependia do carcereiro ou do mestre. Dizia que recebeu mais açoites que São Paulo. Falava com respeito e bondade daqueles que o havia maltratado. Prisãozinha, assim se referia ao cárcere.
Motivo da prisão - queria viver uma vida mais austera.
A legislação previa este tipo de castigo.
João da Cruz foi considerado um homem rebelde, quando na verdade era um homem pacífico.
"Estas coisas não são feitas pelos homens, mas por Deus, que sabe o que melhor nos convém e as determina para o nosso bem. Não pense outra coisa, mas que Deus tudo ordena e onde não há amor, coloque amor e obterá amor".
João não deixou que o cárcere o destruísse física, psíquica ou moralmente, mas que o transformasse em uma nova criatura humana e espiritual. Entregou-se passivamente nas mãos de Deus. "Encontrou-se no ventre da baleia".
Mudança de carcereiro - mais flexível. Concede-lhe papel e lápis.
Aí então escreve o poema do Cântico Espiritual, a Fonte e os Romances.
Como entender? Encontrava-se nas piores condições físicas e psíquicas... e mesmo assim conseguia fazer poemas...
Fuga - 1578 – “De que valerá minha morte? Vou fugir”. Com pedaços de sua manta ou lençol sai por uma janela. Arrisca o salto. Cai no muro que separa o convento do rio Tejo. Procura as monjas descalças as quais o encaminham a um benfeitor até que se restabeleça.
1578 - 1588 – Jaén, região da Andaluzia, entre Úbeda e Beas, convento, solitário - O Calvário –
Andaluzia é uma região que atrai turistas até hoje. Natureza privilegiada. Cidades principais: Barcelona, Valença, Sevilla, Saragoza. No ano de 711 aC foi invadida pelos árabes que a dominaram por oito séculos.
Aí, João vive um misto de liberdade, saudade dos amigos e estranhamento, pois começa a conviver com pessoas que não conhecia e com costumes diferentes. Vive uma vida de oração, trabalho na horta - "É lindo manusear estas criaturas mudas, melhor que ser manipulado pelas vivas". Escreve Noite Escura, é superior do convento, confessor e orientador das carmelitas de Beas. Para elas escreve Avisos e Recomendações, e Comentário de poesias. Seus bilhetes, apesar de frases curtas possuem conteúdo rico e como ele mesmo dizia: “Leia-o muitas vezes”. Fica aí nove meses numa "solidão sonora".
Funda Baeza em 1579. Local de grande apostolado. Superior do Colégio de teologia, diretor da comunidade, formador dos estudantes, confessor e diretor espiritual das monjas, além de visitar os doentes do hospital.
Seu confessionário era ponto de referência. Suas homilias eram anotadas por muitos que as usavam em suas meditações, pois despertavam para a perfeição.
Escreve Cautelas e Avisos.
1580 – Morre Catalina Alvarez, sua mãe, em Medina. Mais uma grade perda e dor.
1581 – Participa do capítulo da separação – Província Independente de Carmelitas Descalços.
Novembro – Último encontro com Teresa de Jesus.
Granada - 1582 - 1588 – Prior - Convento dos Mártires - paisagem maravilhosa - jardins, planícies, cumes da Serra Nevada.
O trabalho é grande - construção de um aqueduto, claustro em arcos, viagens, leitura da Bíblia, orações, contemplação solitária, assistência espiritual e material às irmãs de Granada, cujo convento ajudou na fundação. Comunica-se muito com Madre Ana de Jesus a quem dedica os comentários do Cântico, e com D. Ana de Peñalosa, a quem dedica os escritos de Chama.
Além disso, conclui suas quatro grandes obras: Subida do Monte Carmelo, Noite Escura, Cântico Espiritual e Chama Viva de Amor.
1588 – 1591 – Segóvia – Saudades de sua Castela natal.
Maior maturidade psicológica e espiritual.
Fase negativa – Não viaja, não escreve (mesmo tendo obras inacabadas), não visita freis nem monjas)
Vida ativa e contemplativa, jejuns, convívio e solidão, mística e trabalho manual.
_ Primeiro definidor do Governo Geral. Vigário da Ordem, na ausência de Padre Dória.
_ Superior da casa.
_ Responsável pelas obras de ampliação do convento e reconstrução da igreja.
_ trabalho na obra, pedreira e horta.
Direção espiritual das monjas e leigos da comunidade.
_ Contemplação – longas horas – diante do Santíssimo ou na natureza.
Foi para Segóvia que seus restos mortais voltaram dois anos após sua morte.
Etapa final – 1591 – de junho a dezembro -
_ Junho - Capítulo Geral em Madri.
Defensor das monjas e de padre Gracián – contra padre Nicolas Dória.
Reeleição do Conselho – Todos são reeleitos menos João da Cruz.
Padre Diego Evangelista assume seu lugar – homem rancoroso que faz campanha contra João, caluniando-o.
Vai para o deserto de Pañuela – Jaén – “A imensidão do deserto ajuda muito à alma e ao corpo, mesmo que a alma esteja pobre”.
Aí sua vida é orar, trabalhar no campo, nova redação da Chama Viva.
_ Nomeado provincial para o México.
_ Febre.
Vai para Úbeda, conforme seu desejo, para se tratar. Motivo do desejo: ali ninguém o conhecia, e o prior era amigo de Diego Evangelista, o rancoroso, que certamente o trataria como o próprio.
A doença se agrava: febre alta, ferida na perna direita, nas costa. Ossos amputados da perna sem anestesia.
Foi maltratado pelo prior, que reclamava das despesas, proibia visitas etc.
Dizia sempre: “Mais paciência, mais amor e mais dor”.
Queima todas as cartas dos amigos temendo expô-los.
Dois dias antes de sua morte pede perdão ao prior pelas despesas e incômodos, e ainda pede-lhe o hábito para ser enterrado.
O prior se converte.
Pede que leiam o Cântico dos Cânticos, o qual lia de joelhos.
De 13 para 14 de dezembro de 1591, ao ouvir o sino para as matinas exclama: “Vou cantar matinas no céu”. Morre.
(Em estudo)
Lourdes Pimenta, ocds
Comunidade Santa Teresinha de Passos
07/12/2007