Solenidade Carmelita.
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"SANTIDADE E APOSTOLADO DE SANTA TERESA DE JESUS".
"Mês Missionário Extraordinário".
Neste mês de outubro, "Mês Missionário Extraordinário" proposto pela Igreja, cumpre-nos meditar alguns aspectos da vida de nossa Mãe e Fundadora, Teresa de Jesus, Doutora da Igreja, algo brevemente meditado nos nove dias que antecederam esta solenidade.
Na liquidez de sua entrega, bem como nos seus escritos doutrinários e evangélicos, encontramos o que há de concreto e consonante entre sua oração e seu apostolado, sobretudo, experiência de Deus e missão encarnada, bem próprios para este tempo da Igreja.
Recorramos aos estudos do Frei Jesus Castellano Cervera, OCD, para melhor compreendermos a densidade da doutrina de "Santidade e Apostolado", vivido e proposto por santa Teresa de Jesus".
Sobre a experiência mística na Igreja e a finalidade da "oração" para Santa Teresa, escreve Frei Cervera, dizendo que o valor da oração para o "apostolado" está no sentido "santificante da ação apostólica", ao mesmo tempo que serão o "sentido final da vida cristã". Portanto, Santa Teresa propõe uma mística da oração e de apostolado, esta afirmação está presente em todos os seus escritos, a começar pelo livro da Vida e pelo Caminho de Perfeição e, especialmente, no final do Castelo Interior, quando ela mesma vive imersa em Deus e vive dedicada ao serviço da Igreja. (7M 4,4 e ss).
"Trata-se de uma lição atual que não só recorda a necessária unidade de vida em toda a espiritualidade cristã, sem dicotomias, mas que atraiu a atenção de alguns autores protestantes que admiraram, contrariamente a quanto pensam alguns críticos protestantes sobre a mística, o sentido da ação, a caridade que transforma a pessoa e a lança rumo às obras do serviço do Senhor. Nestas páginas recolhemos o sentido profundo da mística cristã, mística da oração e da ação apostólica".
Dirá ainda Cervera.
Busquemos especialmente neste MME, aprimorarmos o valor da oração, o sentido da ação, a presença de Cristo em nossas vidas até a identificação com Ele, no serviço à Igreja para a santidade de vida.
Apresentamos, resumidamente, alguns destes pontos sinalizados acima:
1. À luz da plenitude da vida.
À luz desta plenitude de vida, contrastada por mil dificuldades, adquirem valor as preciosas páginas finais do Castelo Interior que são quase autobiográficas, enquanto revelam sentimentos e as suas disposições de esquecimento de si e de total dedicação ao serviço da Igreja: numa existência profundamente marcada pela cruz das perseguições, muito mais sentida enquanto freqüentemente vêm dos próprios homens da Igreja. E são também páginas proféticas, ao iluminarem os cinco anos de vida que faltam para a sua morte em Alba de Tormes, em 4 de outubro de 1582. A Santa vai viver na plenitude a oração anunciada por estas páginas. O início das perseguições sofridas pela santa e por seus filhos e filhas atingirá ainda momentos dramáticos nos anos seguintes até a separação das duas famílias dos Carmelitas acontecida com o Breve de Gregório XIII “Pia consideratione” de 1580. A Santa retomará sua atividade de fundadora em Malagón, onde se tornará arquiteta do novo mosteiro, e ainda retomará, entre doenças, as viagens pelas estradas da Espanha para as últimas fundações de Villa Nueva de la Jara, Soria, Palência e Burgos. Nesta nobre cidade sofrerá as indecisões do Arcebispo que não se decide conceder as licenças para a fundação. Entrementes a Santa e suas filhas, hospedadas no hospital da cidade dedicar-se-ão a cuidar amorosamente os doentes. Também neste detalhe descobrimos uma manifestação da plenitude do amor por Deus e pelo próximo. Como garantia da continuidade de inspiração (...)
2. Ser semelhantes a Cristo.
A santidade é a conformação a Cristo no ser e no agir. Ele é o modelo supremo, e quanto Deus fez no seu diletíssimo Filho” é a medida de quanto Deus fará com aqueles que ama. Nessas palavras temos a relativização das graças místicas: as graças são para a graça; a graça é a conformação com Cristo, a cuja imagem devemos nos conformar (cfr. Rom 8,29). É esta santidade cristã à qual são ordenadas todas as graças místicas. Em seguida explica: "Tenho por certo que o escopo destas graças seja fortificar a nossa fraqueza para que o possamos imitar no muito sofrer” (Ib.)
Uma vida em Cristo, marcada pelo sofrer com Ele e como Ele, é o cume da santidade cristã; as graças místicas contribuem para sanar e fortificar o discípulos de Cristo na sua nativa fraqueza. Nenhum senso morboso neste sofrer da terminologia teresiana porque tem como medida o de Cristo. Mas, para evitar equívocos, temos de recordar um traço autobiográfico. No livro da Vida tinha escrito: “Com freqüência lhe digo com todo o fervor da minha alma: Senhor, só vos peço uma coisa: ou morrer ou sofrer” (V 40,20).
3. As obras e a força da oração.
A análise da natureza do amor. O verdadeiro amor produz o êxtase, isto é o estar fora de si, polarizado na pessoa que se ama; esquece-se da própria vida, da própria honra, do próprio repouso: “Como deve transcurar o próprio repouso a alma que vive tão unida ao Senhor! Como não se deve preocupar com a honra! Como deve estar distante do desejar ser estimada em algo!” O “esquecimento de si é com freqüência citado por Teresa neste contexto como um sentimento característico de quem aderiu a Deus com todo o coração. Os Santos, de fato, são os “esquecidos de si” (7M 4,11). Ela mesma o experimentou. No capítulo 3 das sétimas moradas onde a santa enumera alguns efeitos típicos da união transformante que tornam os místicos semelhantes a Cristo Crucificado recorda um dos efeitos produzidos pela comunhão com Cristo: “Um grande esquecimento de si, tão profundo que não se reconhece mais... Não quer ser nada em coisa alguma... Sente-se mergulhada em tão estranho esquecimento que parece não mais existir” (7M 3,2.15; cfr. Rel 6,1).
4. Jesus Crucificado, plenitude do amor no serviço.
Altos da doutrina teresiana: A cruz. É o “verbum crucis”, a palavra da cruz de Teresa, semelhante também nisso à pregação de Paulo (cfr. 1Cor 1,17-25; 2,2); a síntese da sabedoria da cruz como chave de abóbada de toda a vida cristã. O apelo constante a fixar o olhar em Cristo foi muitas vezes repetido por Teresa: “Os olhos no vosso Esposo” (CP 2,1); “Fixemos os olhos em Cristo” (1M 2,1); texto que recorda a exortação da Carta aos Hebreus sobre a “corrida que está diante de nós, mantendo o olhar fixo em Jesus, autor e aperfeiçoador da fé” (Hbr 12,2). O olhar dirigido a Cristo adquire agora o tom de um desafio: “Fixai vossos olhares no Crucificado e tudo tornar-se-vos-á fácil. Se o Senhor nos demonstrou o seu amor com obras tão grandes e com tão horríveis tormentos, porque querê-Lo contentar somente com palavras?” (7M 4,8). O olhar fixa-se sobre o modelo: Cristo, o Esposo, sobre o qual é preciso que a Igreja fixe com amor os seus olhos, como resposta definitiva do amor de Deus e ao amor de Deus, uma resposta que adquire densidade de amor pelas sobras. E, continuando em tom de parêntese provocatória, um dos textos mais bonitos e resolutivos de Teresa: “Sabei o que significa ser verdadeiramente espirituais?” Chegamos a uma revelação, à consignação de um segredo de sabedoria, à definição da mística e da espiritualidade cristã, que encontra em Cristo Crucificado todo o peso e a luz da revelação que acontece na Cruz. E eis a resposta: “Ser escravos de Deus, até ser marcados com o seu ferro, o da cruz, Ele os possa vender como escravos de todo o mundo, como foi para Ele. E não teríamos nenhum agravo, mas uma graça não pequena, visto que nos lhe sacrificamos a nossa vontade” (ibi). A santidade cristã, a espiritualidade “verdadeira” têm por seu vértice e modelo o Cristo, o Servo de Deus e o Servidor dos homens (portanto o Servo de Jahvé que dá a sua vida pela salvação de muitos). Neste dom de si à vontade de Deus e ao amor do próximo até tornar-se escravo entrelaçam-se no Cristo a mística do martírio e a mística do serviço. O verdadeiro espiritual, o místico cristão encontra aqui o vértice da santidade. Ser espirituais consiste portanto no entrar em comunhão plena com o Cristo crucificado, na identificação suprema da cruz na qual se vive em total dom da própria liberdade e no serviço total e gratuito por amor, tornando-se “escravos ”, como Cristo. O selo da Cruz, marcada pelo fogo ardente do Espírito, o sinal de pertença e de comunhão com Cristo.
5. Unidade de vida.
Ação e contemplação. Neste texto clássico da unidade indissolúvel entre ação e contemplação Santa Teresa os representa por Maria e Marta de Betânia no ápice do Castelo Interior, nas Sétima moradas. Antes de tudo propõe uma afirmação sobre a unidade entre oração e vida, veiada por pitada de perspicaz ironia, sempre atual ao referir-se a um cristianismo piedoso que correr o risco de fechar-se na piedade e na oração sem proporcionar saída para o amor ativo: “Por isso repito, é necessário que procureis não fazer consistir o vosso fundamento somente no rezar e contemplar, porque se não procurais adquirir as virtudes e não vos exercitais nelas, permanecereis sempre anãs. E praza a Deus que vos limiteis somente a não crescer, porque nesta estradas, como bem sabeis, quem não cresce diminui” (7M 4,9). A vida espiritual consiste no crescimento harmônico da oração e das virtudes; o homem espiritual cresce e amadurece na oração que o une a Deus e nas obras com que ama os irmãos, encontrando assim uma harmoniosa unidade de vida. A oração precisa do espaço vital da existência para exteriorizar todas as suas possibilidade. Ao longo de todo o Castelo Interior a nossa autora indicou esta coerência de amadurecimento cristão. Mas quando se quebra a unidade de vida estamos diante do perigo de deformação espiritual e também humana; deformação que plasticamente é ilustrada no texto anterior ao referir-se ao “nanismo”; há perigo de produzir garranchos, de deformar a natureza da vida cristã quando se opõe oração e vida. Ao invés uma oração que procura a coerência das atitudes cristãs tem como frutos cristãos autênticos, equilibrados. O amor verdadeiro possui um dinamismo natural de crescimento, de
criatividade: “Considero impossível que o amor, quando existe, se contente de permanecer sempre no mesmo estado” (Ibi).
6. A estrada real da santidade.

Com uma retomada que nos conduz novamente ao tema do serviço, encontramos a seguinte afirmação: “Eis, portanto, quanto gostaria que procurássemos. Desejemos e pratiquemos a oração não já para gozar mas para ter a força para servir” (Ibi). A estrada real da santidade pela qual se enveredaram os Santos seguindo as pegadas do Senhor. Retornam à mente como tipologia da unidade de vida as clássicas figuras de Marta e Maria, unidas já na harmonia da ação e da contemplação. Como de costume, e contra uma exegese muito unilateralmente favorável à Maria, Teresa defende a atitude ativa de Marta, quase descuidada da repreensão de Jesus e da douta exegese dos teólogos. Teresa ficou sempre impressionada pela figura nobre e amorosa do serviço de Marta de Betânia. Ela recorre com freqüência à necessária unidade entre Marta e Maria (V 17,4; 22,9; Relação 5,5). Melhor, Teresa pensa na dor de Marta pelo seu sentimento de pesar pela repreensão que Jesus lhe dirigiu (Exclamação 5,2). Alhures tinha escrito, sempre em favor de Marta: “De Santa Marta não se diz que fosse contemplativa. Todavia não deixa de ser uma grande Santa... Pensem que entre elas deve haver também alguém que prepare a refeição para o Mestre e ela se si considere afortunada por servir como Marta”. E prossegue num bonito pensamento que é ao mesmo tempo apologia da vida comunitária e do valor único do amor quer na contemplação quer na ação: “Se pois a contemplação, a oração mental e vocal, o cuidado das enfermas, os diversos ofícios da casa e até as tarefas mais humildes concorrem para servir o Hóspede divino que vem morar, comer, recrear-se conosco, que nos importa servi-Lo mais de um modo do que de outro?” (C 17,6).
(Fonte: "Santa Teresa de Jesus Frei Jesus Castellano Cervera, OCD. Tradução: Frei Antônio Perim, OCD)
Por Estela da Paz.
Grupo São José de Petrópolis, RJ.