Teresa de Cepeda e Ahumada, nasce em Ávila (Espanha) na dia 28 de março de 1515. Foram seus pais Alonso de Cepeda, filho de um hebreu convertido, e Beatriz de Ahumada. No dia 4 de abril recebe o batismo na Igreja de São João. Entre os onze irmãos, foi a “mais querida”. Os seus pais “virtuosos e cheios de temor de Deus” educaram-na à piedade e aos trabalhos domésticos. Na idade de 7 anos com seu irmão Rodrigo lia a história dos santos. Atraídos por essas narrações decidem ir à terra dos mouros para serem decapitados por Cristo (V 1,4). Quando tinha entre 12 e 13 anos ficou órfã de mãe. Ao sentir-se órfã, Teresa prostrou-se aos pés da Virgem suplicando-lhe que para o futuro fosse sua mãe. (V 1,7). Anos depois, com quase 18 anos, depois de ter ficado um ano e meio no internato das irmãs agostinianas, para efetuar seus estudos, embora tenha lhe sido um momento frutuosa para sua história pessoal e descoberta da vocação religiosa, ela sai (V 2,7-8). A seguir, entra em contato com livros espirituais e começa a fazer oração. As Cartas de São Jerônimo levam-na a tomar a decisão de abraçar a vida religiosa (V 3,7). Após uma longa caminhada em prol do seu chamado, missão, e com a Reforma Teresiana, no dia 21 de setembro de 1582 chega a Alba de Tormes doente e esgotada. No dia 29 uma hemorragia obriga-a a ficar de cama. No dia 2 de outubro faz a sua confissão e no dia 4 recebe o viático; às suas filhas, Teresa expressa o íntimo desejo de ir logo ver o seu Esposo Jesus Cristo, e, como numa gozosa ladainha, repete até o momento do sereno trespasse as palavras: “Enfim, Senhor, sou filha da Igreja”.
Teresa de Jesus - A Carmelita.

No dia 2 de novembro de 1535 Teresa foge de casa com um irmão e pede o hábito no mosteiro carmelitano da Encarnação, onde já se encontra uma amiga sua (V 4,1). Faz a sua profissão no dia 3 de novembro de 1537. Adoece e a misteriosa doença obrigada a deixar o mosteiro, período que entra em contato com o Terceiro abecedário de Francisco de Osuna que a inicia na prática da oração mental (V 4,7). Em 1539 a misteriosa doença se agrava, fica por três dias como que morta; pela imponência de seu pai Alonso, acabou sendo impedido o seu sepultamento (V 5,9-10). Permanece frágil durante algum tempo, facilidade que a acompanhará por toda a vida. Ela irá atribuir sua completa cura a São José, por quem nutrirá, a partir de então, total veneração (V 6,1-2.6-8). No ano 1560, como fruto de intenso crescimento espiritual, Teresa decide com algumas amigas íntimas, abraçar um estilo de vida carmelitana mais perfeito (V 32,9-010), no intuito de retornar a ideia primitiva da Regra da Ordem - vida de solidão, mortificação e oração, num grupo pequeno e seleto (V 32,11). Em 24 de agosto de 1562, anunciava aos habitantes de Ávila a fundação do mosteiro de São José, e as primeiras quatro carmelitas descalças recebiam o hábito. Aqui dava início a realização da Reforma Carmelitana. Sem dúvidas que tudo isto suscitou iras do Conselho da cidade; Teresa, por ordem do seu superior, teve de retornar à Encarnação. Tudo parecia acabado (V 36). Contradições e perseguições lhe acompanham, mas Teresa vence, com a aprovação do Conselho da cidade, volta definitivamente a São José. A Madre adota o novo nome de Teresa de Jesus, recebe amplas faculdades de Roma com o breve da Fundação. Inicia a vida do novo Carmelo (F 1). O ano de 1567, inicia a aventura como fundadora, seguida de uma sequência de fundações, até que a Providência lhe envia o jovem carmelita João da Cruz, e com ele a Madre inicia a sua vida de oração e de apostolado em Duruelo no dai 28 de novembro de 1568. Duruelo, como o mosteiro de José, aqui estava a semente do novo Carmelo Teresiano. (cf. Livro das Fundações).
Teresa de Jesus – Seus escritos.

Teresa de Jesus não tinha uma formação acadêmica, mas sempre valorizou os ensinamentos de teólogos, letrados e mestres espirituais. Como escritora, sempre se ateve àquilo que pessoalmente vivera ou vira na experiência do próximo (cf. Prólogo ao Caminho de Perfeição), isto é, a partir da experiência. As primeiras obras teresianas (Vida e Caminho) foram compostas quando a autora não tinha ainda alcançado a plenitude da experiência. Teresa consegue manter relações de amizade espiritual com muitos santos, em especial com são João da Cruz. Alimenta-se, também, com a leitura dos Padres da Igreja, são Jerônimo, são Gregório Magno e santo Agostinho. Sua autobiografia, intitulada Livro da vida, ao qual ela chama Livro das Misericórdias do Senhor, escrita no Carmelo de Ávila em 1565, discorre seu biográfico e espiritual, escrito como afirma a própria Teresa, para submeter a sua alma ao discernimento do «Mestre dos espirituais», são João de Ávila. Em 1566, Teresa escreve o Caminho de Perfeição, por ela chamado Admoestações e conselhos que Teresa dá de Jesus às suas monjas. Destinatárias são as doze noviças do Carmelo de são José Ávila. Em 1577, em plena maturidade espiritual, Teresa escreve a obra Castelo Interior. Trata-se de uma releitura do próprio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, de uma codificação do possível desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo.
Em fundações, escrito de 1573 a 1582, Teresa dedica o Livro para falar da vida do grupo religioso nascente. Como na autobiografia, a narração visa frisar sobretudo a ação de Deus na obra de fundação dos novos mosteiros.
Teresa de Jesus – Sua doutrina.

A notável doutrina de Santa Teresa de Ávila, é o inegável caminho para seu doutorado, “resplandece pelos carismas de verdade e da sabedoria”, o carisma da verdade em conformidade com a fé católica, e o da sabedoria, que nos leva a pensar no aspecto misterioso de seu doutorado, latente no influxo da inspiração divina e prodigiosa revelada na escrita mística. A sua doutrina concentra-se neste ponto “Amor divino inundante”. Santa Teresa teve o privilégio e o merecimento de conhecer estes segredos, por meio da experiência, vivida na santidade de uma vida consagrada à contemplação e, ao mesmo tempo, dedicada à ação, experiência sofrida e também gozada, na efusão de extraordinários carismas espirituais. Teresa possuiu a arte de expor estes segredos em grau tão elevado que se classificou entre os maiores mestres da vida espiritual. Teresa possuiu a arte de expor estes segredos em grau tão elevado que se classificou entre os maiores mestres da vida espiritual. É necessário considerar antes de tudo uma coisa maravilhosa que Santa Teresa tenha penetrado no mistério de Cristo e no conhecimento da alma humana com tanta acuidade e sagacidade, para que sua doutrina indique claramente a presença e a força certas de um carisma singular do Espírito. Pois nesta doutrina sobressai um sentido de realidade muito profundo, uma compreensão íntima, do mistério do Deus vivo, de Cristo Salvador e da Igreja, uma experiência viva de graça, que eleva e desenvolve a natureza, adornada com tantos dons. Daí a eficácia suprema e a autoridade perene de sua doutrina, que se estende além dos limites da Igreja Católica e atinge até mesmo aqueles que não acreditam. Os escritos - A humanidade de Cristo - A oração O seu ensino foi importante não só para a vida dos fiéis, mas também, e, sobretudo, de forma operativa, para aquela seção selecionada e de grande valor do conhecimento teológico, que hoje se denomina teologia espiritual. Na verdade, os escritos de Teresa são uma fonte muito abundante de múltiplas experiências, testemunhos, percepções espirituais, das quais todos os estudiosos desta teologia se basearam em grande parte. Esses escritos, embora tenham sido redigidos, por motivos e circunstâncias diferentes, ou de acordo com um método predeterminado, formam um corpo harmonioso e compacto de doutrina espiritual." (S. Paulo VI) Sobre suas virtudes, dirá ainda, o então Papa Paulo VI: Santa Teresa de Jesus foi um excelente incentivo e exemplo no exercício de todas as virtudes. De fato, distinguiu-se pela prudência e simplicidade evangélica, humildade de espírito, pela obediência aos superiores, mesmo nas coisas difíceis, no desprezo e na particular propensão para o bem dos outros e, para os ajudar, não hesitou em se sacrificar. Era preciso somar a isso as virtudes humanas, que dizem que Teresa cultivava, pois se esforçava muito para falar a verdade, para cumprir sua palavra, para cumprir suas promessas, para ter uma linguagem, mesmo familiar, cheia de alegria e bondade. Ele realmente se destacou, no que devia fazer ou sustentar, na grandeza de alma, bem como na igual estima e igual respeito por cada um.
Teresa de Jesus – Em direção ao Doutorado.
São Paulo nos apresenta um sentido amplo de mestre, quando diz que o Senhor “cons tituiu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores em sua Igreja” (cf. Ef 4,11; ver 2Cor 12,28; At 13,1). Ainda, o Apóstolo: "O Espírito Santo não só através dos sacramentos e dos ministérios santifica o povo de Deus, guia-o e adorna-o com virtudes, mas, distribuindo a cada um os seus dons como lhe agrada (1 Cor 12,11); a Igreja: "também dispensa entre os fiéis de cada ordem graças especiais, com as quais os torna idôneos e prontos para assumir várias obras e ofícios, úteis para a renovação e maior expansão da Igreja" (LG 12).
Ressaltamos as exigências da Igreja para o título de honra de "Doutor". Quem o recebe? Homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua fé, e principalmente pelo eminente saber teológico, atestado por escritos vários, foram honrados com tal título por desígnio da Igreja. Os Doutores se assemelham aos Padres da Igreja (séculos VII/VIII), se aos Padres da Igreja, basta o reconhecimento concreto, não explicitado, da Igreja, ao passo que para os Doutores se requer uma proclamação explicita feita por um Papa ou por um Concílio. Para os Padres, não se requer um saber extraordinário, ao passo que para um Doutor se exige um saber de grande vulto.
Santa Teresa é uma santa da Igreja Tridentina e da Reforma católica. Tem plena consciência de viver numa Igreja que celebra um Concílio de Reforma, o Concílio de Trento. Participa ativamente do movimento da Reforma católica. Conhece os grandes santos, teólogos, bispos do seu tempo. Ela mesma é fruto desta comunhão com a Igreja do seu tempo e os melhores protagonistas da história religiosa da Espanha. A sua experiência de Igreja é vasta e profunda. Desta forte experiência eclesial brota a sua contribuição à renovação espiritual da Igreja: a vida contemplativa como renovação interior para servir a Igreja: a vida contemplativa como renovação interior para servir a Igreja com a oração e a santidade.
Teresa de Jesus chega ao século XX com toda a sua autoridade no campo da mística, quando existem fermentos válidos no interior desta ciência, se trabalha numa proposta válida da teologia ascética e mística e torna-se preponderante o discurso sobre o problema místico com discussões bem animadas. No ano de 1962, um estudo do frei Tomás Álvares marca o início de uma nova época no campo dos estudos teresianos. Teresa de Jesus é apresentada como mística, como contemplativa na Igreja. Com uma graça específica e uma mensagem própria, situada na sua época mas com perene validade. É testemunha da vida sobrenatural, do mistério de Deus revelado em Cristo. O estudo traça um amplo e documentado balanço dos “conteúdos da experiência mística teresiana”. Pela primeira vez, é colocado o acento sobre os conteúdos da teologia, sobre os mistérios revelados que foram concedidos a Teresa como objeto de contemplação e de experiência. Será o primeiro de muitos outros trabalhos que até os nossos dias procuraram estudar em profundidade, monograficamente, estes grandes sujeitos da revelação cristã, vividos por Teresa à nível místico: Deus, Cristo, a Trindade, o Igreja, o homem, o pecado.
"Agradeço-te, Senhor, porque morro filha da Igreja"

Na “Carta Apostólica” da proclamação, santa Teresa, é apresentada com admiração pelo santo padre, que testemunha profunda admiração por sua doutrina, e ratifica também, as palavras de seus predecessores, ao dizer: “ela enunciava como fundamento da sua doutrina, morrendo, repetia cabalmente verdade e alegria de coração: 'Agradeço-te, Senhor, porque morro filha da Igreja'. Assim sendo, já em 15 de outubro de 1967, declaramos publicamente nossa intenção de inscrever Santa Teresa de Jesus no catálogo dos doutores da Igreja... E esta intenção baseava-se não só no nosso costume com a doutrina desta santa mulher, mas também na grande estima que os nossos predecessores do Pontificado Romano manifestaram, repetidas vezes, com a palavra sobre a excelência da sua doutrina, que parecem, sem dúvida, preceder a nossa solene proclamação. Entre eles está Gregório XV, que na Bula da canonização deu este testemunho da doutrina de Santa Teresa: “O Todo-Poderoso... então a encheu com o espírito de inteligência... regou-a com a chuva de uma sabedoria celeste”. Além disso, a comparação feita por Bento XIII na Bula de canonização de São João da Cruz entre a mesma santa e Teresa é muito importante: “... ao explicar com seus escritos os segredos misteriosos da teologia mística, ele foi divinamente instruído, ninguém menos que Teresa”; com esta comparação, uma doutora aborda um doutor. Completa: E isso aconteceu hoje, com a ajuda de Deus e com a aprovação de toda a Igreja. De fato, na Basílica de São Pedro, com a concordância de anfitriões de fiéis de todas as nações e principalmente da Espanha, na presença de muitos Cardeais e sagrados prelados da Cúria de Roma e da Igreja Católica, que ratificam todos os decretos, aderem ao pedidos dos membros da Ordem dos Carmelitas Descalços e de bom grado conceder os votos dos demais requerentes, durante o sacrifício divino pronunciamos estas palavras: "COM VERDADEIRA COGNIÇÃO E DECISÃO PONDERADA E PELA PLENIDADE DA AUTORIDADE APOSTÓLICA DECLARAMOS SANTO TERCEIRO DE JESUS, VIRGEM D 'AVILA, DOUTORA DA IGREJA UNIVERSAL". (S. Paulo VI)
Concluímos desejando que sejam úteis os aspectos aqui apresentados, como dissemos no início, e também, celebrarmos tamanha graça que para a Igreja, para o Carmelo e para o mundo. Que as palavras do Papa Francisco nos seja este incentivo: "Em santa Teresa contemplamos o Deus que, sendo «Majestade soberana e Sabedoria eterna» (Poesia 2), se revela próximo e companheiro, e tem prazer de falar com os homens: Deus alegra- se com cada um de nós... Numa cultura do provisório, vivei a fidelidade do «sempre, sempre, sempre» (Vida, 1, 4); num mundo sem esperança, mostrai a fecundidade de um «coração apaixonado» (Poesia 5); e numa sociedade com tantos ídolos, sede testemunhas de que «só Deus basta!» (Poesia 9)." (Papa Francisco, 2014)
SANTA TERESA DE JESUS, DOUTORA DA IGREJA,
ROGAI POR NÓS!
Estela da Paz.
(Estela Maria Teresa de Jesus, OCDS)
Comissão de História
Comissão de Espiritualidade
Ref.:
. CARTA APOSTÓLICA MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS - PP. Paulo VI.(27/09/1970).
. HOMILIA DA MISSA DE CANONIZAÇÃO – PP. Paulo VI.(27/09/1970).
. CATEQUESE. Papa Bento XVI. (02/02/2011)
. CARTA DO PADRE GERAL - P. Saverio Cannistrà, OCD (28/03/2020)
. MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO POR OCASIÃO DO QUINTO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE TERESA DE ÁVILA. (15/10/2014)
. CERVERA. Frei Jesus Castellano, OCD. Teresa de Jesus, Mestra de Vida Espiritual. Ano de 1996.
. D. Estevão Bettencourt, OSB. Revista nº 429. Ano, 1998 – p. 87.