Ano Santo de São José (2020-2021)
Santa Teresa de Jesus, “herdeira da
devoção josefina do Carmelo”.
(cf. Carta à Família Carmelitana)
Nesta
Solenidade de Santa Teresa de Jesus pretendemos despertar e dar sentido aos
pontos fundamentais do seu carisma da oração, abordando a relação de sua
doutrina do Pai-Nosso na obra Caminho de Perfeição, e de sua devoção a São
José, celebrando junto a ela o Ano Santo de São José, refletindo pontos destacados
pelos Gerais da Ordem (OCD e O.Carm) em virtude deste ano santo, dando voz as
importantes referências feitas pelo Papa Francisco a partir da Carta Apostólica
Patris Corde, no Decreto das Indulgência da Penitenciária Apostólica. Indulgências que podem ser lucradas nas
condições habituais: Confissão sacramental, Comunhão eucarística e Oração
segundo as intenções do Santo Padre. Neste
sentido, dirá o Decreto das Indulgências: “São
José, autêntico homem de fé, convida-nos a redescobrir a nossa relação filial
com o Pai, a renovar a nossa fidelidade à oração, a escutar e responder com
profundo discernimento à vontade de Deus. A Indulgência plenária é
concedida a quem medite por pelo menos 30 minutos sobre o Pai Nosso, ou que
participe de um retiro espiritual de pelo menos um dia que inclua uma meditação
sobre São José”.
A
oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento. (CEC 2558)
Sabemos que a oração é o carisma de Santa Teresa na Igreja, que não significa
somente afirmar que é uma sua especialidade, mas sim afirmar que é este o dom
de graça, o serviço eclesial, ontem e hoje. Deve frisar-se, porém, que a oração
cristã da qual Teresa possui a chave de compreensão é a pessoal, silenciosa,
contemplativa, capaz de fazer a síntese da resposta total a Deus na vida
cristã, ponto de convergência da totalidade da experiência religiosa em Cristo.
“O bem de quem pratica a oração -
refiro-me à oração mental - obtém já foi tratado por muitos santos e homens
bons. Glória a Deus por isso!... Por isso, peço aos que ainda não começaram
que, por amor a Deus, não se privem de tanto bem... A oração mental nada é para
mim senão um relacionamento íntimo de amizade, um freqüente entretimento a sós
com Aquele que sabemos que nos ama”.
(V 8,5) Assim, com a força dinâmica de sua oração, Santa Teresa instruíra
suas filhas, e hoje a nós, cristãos e carmelitas deste tempo através de suas
obras.
Neste
Ano Santo de São José daremos enfoque à obra Caminho de Perfeição - como
dissemos acima -, através da meditação do PAI-NOSSO. Nosso intuito aqui será de
compreendermos a relação amorosa de Jesus com o Pai do Céu unindo-nos a Ele
nesta relação filial através de Santa Teresa. Queremos também, por meio de
pequenas interações, apresentar a relação filial experimentada por ela com São
José, como também Jesus fizera. Dirá o papa Francisco: “Jesus viu a ternura de
Deus em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece
dos que O temem» (Sl 103,13) - Patris Corde 2. Da mesma forma, numa via de mão dupla
dirá a respeito de São José: “Com coração
de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como «o filho
de José» (PC, Prefácio)”. Na Carta
Apostólica Patris Corde o papa desenvolve
nos sete sub-temas da meditação sobre a “paternidade de São José para
Jesus”, mas assinala de maneira concreta a devoção de Santa Teresa ao glorioso
santo:“muitos santos e santas foram seus
devotos apaixonados, entre os quais se conta Teresa de Ávila que o adotou como
advogado e intercessor” (cf. Vida, 6,6-8).
Assim,
a partir da referência do santo Padre sobre a relação da paternidade de Jesus
com Deus e com São José, nos propomos com o auxílio de Santa Teresa fazer
breves meditações que conduzam à
intimidade com Deus Pai, por meio Jesus, através da meditação das “Sete Petições” da oração que o próprio
Jesus nos ensinou, conformando tais meditações à devoção do glorioso São José:
“Oh! Senhor meu, como pareceis Pai de tal
Filho e como o Vosso Filho parece filho de tal Pai! Bendito sejais, para todo o
sempre! No fim da oração, não seria já tão grande, Senhor, esta mercê?... Ó
Filho de Deus e Senhor meu! Como dais tantos bens juntos logo à primeira
palavra?... Se tornamos a Ele como o filho pródigo, terá de perdoar, de nos
consolar em nossos trabalhos, de nos sustentar, como fará um Pai, que
forçosamente há-de ser melhor que todos os pais do mundo, porque n'Ele não pode
haver senão a perfeição de todo o bem e, depois de tudo isto, fazer-nos
participantes e herdeiros convosco”. (C 27, 1-2)
Numa
breve síntese podemos traçar o fio condutor que liga o comentário teresiano a
cada uma das petições do Pai nosso, e, a relação com a paternidade de São José.
Mas poderá ser suficiente para colher o sentido evangélico da oração-vida do
comentário que a Santa de Ávila desenvolve nos 16 capítulos breves do seu livro
Caminho de Perfeição (cf. C 27-42), utilizando-nos da doutrina da Igreja e do
Carmelo.

“Pai Nosso que estais nos Céus”. Rezar o
«Pai Nosso» é rezar com e por todos os homens, para que conheçam o único e verdadeiro
Deus e sejam reunidos na unidade. A expressão «que estais nos céus» não indica
um lugar, mas uma maneira de ser: Deus está para lá e acima de tudo. Designa a
majestade, a santidade de Deus, e também a sua presença no coração dos justos.
O céu, ou a Casa do Pai, constitui a verdadeira pátria para a qual tendemos na
esperança, enquanto estamos ainda na terra. Nós vivemos já nela «escondidos com
Cristo em Deus» (Cl 3, 3). (cf. CCC 582-586) Santa Teresa: «Pai Nosso, que
estais nos Céus». Ó Bom Jesus! com que clareza mostrastes ser uma mesma coisa
com Ele e que a Vossa vontade é a Sua, e a d'Ele a Vossa! Que confissão tão
clara, Senhor meu! Que amor é esse que nos tendes! (...) Oh! valha-me Deus!
quanto tendes aqui com que vos consolar; mas para não me alongar mais, quero
deixá-lo aos vossos entendimentos; que, por desbaratado que ande o pensamento,
entre tal Filho e tal Pai, forçosamente há-de estar o Espírito Santo; que Ele
enamore vossa vontade, e vo-la prenda tão grandíssimo amor, se para isto não bastar
tão grande interesse. (C 27,1-4.7)
“Santificado seja o vosso Nome, venha a nós
o vosso Reino”. Desejar
santificar o Nome de Deus é, antes de mais nada, um louvor que reconhece Deus
como Santo. É santificar o Nome de Deus que nos chama «à santificação»
(1Ts 4,7) é desejar que a consagração batismal vivifique toda a nossa
vida. É pedir, além disso, com a nossa vida e a nossa oração, que o Nome de
Deus seja conhecido e bendito por todos os homens. (cf. CCC 587-590) Santa
Teresa: “Ó Sabedoria eterna! Entre Vós e Vosso Pai isto
bastava, e assim pedistes no Horto; mostrastes a Vossa vontade e temor, mas
entregastes-Vos à Sua. Mas conheceis-nos, Senhor meu, e sabeis que não estamos
tão rendidos como Vós o estáveis à vontade de Vosso Pai, e vistes que era importante
pedir coisas determinadas, para que nos detivéssemos a ver se é bem ao nosso
gosto o que pedimos e, não sendo, não Lho peçamos. (C 30,2-4)
“Seja feita a vossa vontade assim na terra
como no Céu”. A
vontade do Pai é que «todos os homens sejam salvos» (1 Tm 2,3). Para
isso é que Jesus veio: para realizar perfeitamente a Vontade salvífica do Pai.
Nós pedimos a Deus Pai que una a nossa vontade à do seu Filho, a exemplo de
Maria Santíssima e dos Santos. (cf. CCC 591) Santa Teresa: “Ó bom Jesus,
que recebeis tão pouco da nossa parte, como pedis tanto para nós! Sim, que isso
que damos, em si é nada para tanto que se deve, e para tão grande Senhor! Mas
certo é, Senhor meu, que não nos deixais sem nada, e que damos tudo quanto
podemos, se o damos como dizemos”. (C
32,1)
“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Ao pedir a Deus, com o confiante abandono dos
filhos, o alimento quotidiano necessário a todos para a subsistência,
reconhecemos o quanto Deus nosso Pai é bom e está acima de toda a bondade.
Pedimos também a graça de saber agir de modo que a justiça e a partilha, a este
pedido refere-se igualmente à fome da Palavra de Deus e à
do Corpo de Cristo recebido na Eucaristia (cf. CCC 592-593). Dai-nos hoje o nosso
pão...! A Eucaristia torna-se síntese da
oração: momento da mais intensa comunhão com Deus, da presença de Cristo dentro
de nós que convida ao recolhimento; diante da Eucaristia - que Teresa contempla
especialmente neste capítulo como presença, comunhão, sacrifício - a síntese
dos empenhos de fé e de amor do cristão. Santa Teresa: “Vendo o bom
Jesus a necessidade buscou um meio admirável por onde nos mostrou o máximo de
amor que nos tem e, em Seu nome e no de Seus irmãos, fez esta petição: «O pão
nosso de cada dia, nos dai hoje, Senhor». Entendamos... por amor de Deus, isto
que pede o nosso bom Mestre, que não nos vá a vida em passar de corrida sobre
isto, e tende em muito pouco o que haveis dado, pois tanto haveis de receber.
Este mantimento e maná da humanidade, que O achamos como queremos; e, a não ser
por nossa culpa, não morreremos de fome, pois, de todos os modos e maneiras que
a alma quiser comer, achará no Santíssimo Sacramento sabor e consolação. Não há
necessidade, nem trabalho, nem perseguição que não seja fácil de passar, se
começamos a saborear os Seus." (C
33- 34)
“Perdoai-nos as nossas ofensas, ‘assim como’
nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Ao pedir a Deus Pai para nos perdoar,
reconhecemo-nos pecadores diante d’Ele. E, ao mesmo tempo, confessamos a sua
misericórdia, porque, no seu Filho e através dos sacramentos, «recebemos a
redenção, o perdão dos pecados» (Cl 1,14). Porém, o nosso pedido só será
atendido se tivermos perdoado aos que nos ofenderam. O perdão participa da
misericórdia divina e é um vértice da oração cristã. (cf. CCC 594-595) Assim a
oração forja desde dentro atitudes de maturidade cristã e o cristão torna-se
“contemplativo”, isto é, cristão empenhado com Deus e com os irmãos,
consumido no amor (cf. C 36-37). Santa Teresa: “Vendo, pois,
o nosso bom Mestre que, com este manjar celestial, tudo nos é fácil, a não ser
por nossa culpa, e que podemos cumprir bem o que dissemos ao Pai: que se faça
em nós a Sua vontade. Aqui, tem lugar a Vossa misericórdia. Bendito sejais Vós,
por me sofrerdes assim tão pobre que, falando o Vosso Filho em nome de todos
nós, sendo eu tal como sou e tão pobre de haveres, tenho de me pôr fora da
conta. Mas, Senhor meu, haverá pessoas que me tenham feito companhia e não
hajam entendido isto? Se as houver, em Vosso nome lhes peço que se lembrem
disto e não façam caso dumas coisitas a que chamam agravos; parece que fazemos
como as crianças, casas de palhinhas, com estes pontos de honra!” (C
36,1-3)
“Não nos deixeis cair em tentação”. Quando
dizemos: «Não nos deixeis cair em tentação», pedimos a Deus Pai que não nos
deixe sozinhos e à mercê da tentação. Pedimos ao Espírito para sabermos
discernir entre a provação que ajuda a crescer no bem e
a tentação que conduz ao pecado e à morte, e, ainda, entre ser
tentados e consentir na tentação. Esta petição coloca-nos em união
com Jesus, que, com a sua oração, venceu a tentação e solicita a graça da
vigilância e da perseverança final. (cf. CCC 596) Santa Teresa: "Tenho por
muito certo que, os que chegam à perfeição, não pedem ao Senhor os livre de
trabalhos, nem das tentações, nem de perseguições e pelejas; mas antes os
desejam, pedem e amam, como disse há pouco... Os soldados de Cristo, ou seja,
os que têm contemplação e tratam de oração, estão desejosos por ver chegada a
hora do combate. Nunca temem muito a inimigos declarados; já os conhecem e
sabem que não têm força... Bom é andar de sobreaviso, não haja quebra da
humildade ou gerar-se alguma vanglória... Dá-nos o demônio a entender que temos
certa virtude, digamos a paciência, porque nos determinamos e fazemos
propósitos muito contínuos de sofrer muito por Deus... pois acontecerá que, a
uma palavra que vos digam do vosso desagrado, caia por terra a vossa
paciência... Mas torno a avisar-vos: embora vos pareça que a tendes, temei de
vos enganardes, porque o verdadeiro humilde sempre anda duvidoso das virtudes
próprias, e muito habitualmente julga mais seguras e de mais valia as que vê no
próximo." (C 38, 1-9)
“Livrai-nos do Mal. Amém”. Concluímos
pedindo: «Mas livra-nos do Mal». O Mal indica a pessoa de Satanás que se opõe a
Deus e que é «o sedutor de toda a terra» (Ap 12, 9). A vitória sobre o
diabo já foi alcançada por Cristo. Mas nós pedimos para que a família humana
seja libertada de Satanás e das suas obras. Pedimos também o dom precioso da
paz e a graça da esperança perseverante da vinda de Cristo, que nos libertará
definitivamente do Maligno. «Depois, acabada a oração, tu dizes: Amém,
corroborando com o Amém, que significa “Assim seja, que isso se faça”, tudo o
que está contido na «oração que Deus nos ensinou» (S. Cirilo de Jerusalém).
(cf. CCC 597-598) Nesta última petição do Pai-Nosso, Santa Teresa explode, de
maneira poderosa a orientação escatológica do cristão que deseja adquirir a
verdadeira liberdade de poder amar a Deus sem o risco de perdê-lo. A esperança
cristã aponta para a vida eterna e para o desejo de ver Deus para ficar nele
livres, porque já libertos de qualquer possibilidade de ser alcançados pelo mal
(cf. C 42). Santa Teresa: “Parece-me que tem razão o bom Jesus ao
pedir isto para Si, porque bem vemos como estava cansado desta vida, quando na
Ceia disse a Seus Apóstolos: «Desejei com grande desejo comer convosco esta
ceia», que era a última da Sua vida. Por aí se vê que cansado já devia estar de
viver. Verdade é que não a passamos tão mal nem com tanto trabalhos como Sua
Majestade a passou, nem tão pobremente... E quanta razão tinha de suplicar ao
Pai que O livrasse já de tantos males e trabalho e O pusesse para sempre no
descanso de Seu reino, pois era dele o verdadeiro herdeiro! "Amém".
Com este amém entendo eu, pois com ele se acabam todas as coisas. E assim o
suplico eu ao Senhor que me livre de todo o mal para sempre, pois não acabo de
pagar o que devo, e pode ser, porventura, que eu me esteja a me endividar cada
dia mais. Livrai-me já de todo o mal, e sede servido de me levar aonde estão
todos os bens! Que esperam já, aqui na terra, aqueles a quem tendes dado algum
conhecimento do que é o mundo, e os que têm viva fé no que o Pai Eterno lhes
tem guardado?” (C 42,1-2)
Como
dissemos acima, na Patris Corde o papa Francisco desenvolve sete sub-temas sobre a “paternidade de São José para Jesus”, mas
assinala de maneira concreta a devoção de Santa Teresa ao “glorioso santo”
quando explica a paternidade de São José e sua contribuição com a história da
salvação, sendo assim como “um pai que foi sempre amado pelo povo cristão”,
paternidade essa comprovada no fato de lhe “terem
sido dedicadas numerosas igrejas por todo o mundo; de muitos institutos
religiosos, confrarias e grupos eclesiais se terem inspirado na sua
espiritualidade e adotado o seu nome; e de, há séculos, se realizarem em sua
honra várias representações sacras”, destacando, portanto, que “muitos santos e santas foram seus devotos
apaixonados, entre os quais se conta Teresa de Ávila que o adotou como advogado
e intercessor, recomendando-se instantemente a São José e recebendo todas as
graças que lhe pedia; animada pela própria experiência, a Santa persuadia os
outros a serem igualmente devotos dele”. (cf. Vida, 6,6-8) Concluímos
traçando a relação da paternidade de São José com Jesus na Patris Corde e a
devoção de Santa Teresa.

São José, “Pai Amado”. A grandeza de São José consiste no fato de ter
sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. São Paulo VI faz notar que a sua
paternidade se exprimiu, concretamente, «em ter feito da sua vida um serviço,
um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em ter
usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer
dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua
vocação humana ao amor doméstico na oblação sobre-humana de si mesmo, do seu
coração e de todas as capacidades no amor colocado ao serviço do Messias
nascido na sua casa. A liturgia carmelita celebrava também a união nupcial de
José com a Virgem e o contemplava como protetor de sua virgindade e da vida do
Filho de Deus encarnado. (Carta à Família Carmelitana) Dirá Santa Teresa:
"A outros santos parece ter dado o Senhor graça para socorrerem numa
necessidade; deste glorioso santo tenho experiência que socorre em todas. O
Senhor nos quer dar a entender que, assim como lhe foi sujeito na terra - pois
como tinha nome de pai, embora sendo apoio, O podia mandar -, assim no Céu faz
quanto Lhe pede". ((cf. PC 1; Vida 6,6).
São José, “Pai na ternura”. Jesus viu a ternura de Deus em José: «Como um pai
se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem» (Sl
103,13). Com certeza, José terá ouvido ressoar na sinagoga, durante a oração
dos Salmos, que o Deus de Israel é um Deus de ternura, que é bom para com todos
e «a sua ternura repassa todas as suas obras» (Sal 145,9). A vontade de Deus, a
sua história e o seu projeto passam também através da angústia de José. Assim
ele ensina-nos que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir
inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza.
E ensina-nos que, no meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de
deixar a Deus o timão da nossa barca. Por vezes queremos controlar tudo, mas o
olhar d’Ele vê sempre mais longe. São José é contemplado na sua obediência a
Deus; Ele é o homem justo, o digno senhor da casa do seu Senhor, a quem foi
confiada a responsabilidade de dar o nome divino revelado pelo anjo ao Menino
Jesus. Assim fazendo, São José é quem por primeiro proclama: no Menino de
Nazaré Deus nos salva! (Carta à Família Carmelitana) Dirá Santa Teresa:
"Em especial, as pessoas de oração sempre lhe haviam de ser afeiçoadas. É
que não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos - no tempo em que tanto
passou com o Menino Jesus - sem que se dê graças a São José pelo muito que
então Os ajudou". (cf. PC 2; Vida 6,8)
São José, “Pai na obediência”. De forma análoga a quanto fez Deus com Maria,
manifestando-Lhe o seu plano de salvação, também revelou a José os seus
desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os povos antigos,
eram considerados um dos meios pelos quais Deus manifesta a sua vontade. José
sente uma angústia imensa com a gravidez incompreensível de Maria: mas não quer
«difamá-la», e decide «deixá-la secretamente» (Mt 1,19). O Verbo encarnou no
ventre de Maria. E, em José, através da contemplação – 5 sonhos. Pregadores
carmelitas afirmam: assim como Maria concebeu o Verbo no seu seio por obra do
Espírito Santo, assim São José por obra do Espírito Santo concebeu na
contemplação o Cristo na sua alma, tornando-se pai de Jesus sobre esta terra.
(Carta à Família Carmelitana) Confiando-se a S. José e à Virgem Maria, Santa
Teresa relata sua experiência de ser por eles guardada: "Dia de Nossa
Senhora da Assunção... Eu com grandíssimo deleite e glória, logo me pareceu
Nossa Senhora pegar-me nas mãos. Disse-me que Lhe dava muito gosto sendo devota
do glorioso S. José; que tivesse por certo que, o que eu pretendia do mosteiro,
se havia de fazer e nele se serviria muito o Senhor e a eles ambos; que não
temesse que nisto houvesse jamais quebra, embora a obediência que dava não
fosse a meu gosto, porque Eles nos guardariam e já Seu Filho nos tinha
prometido andar conosco". (cf. PC 3; Vida 33,14)
São José, “Pai no acolhimento”. José acolhe Maria, sem colocar condições prévias.
Confia nas palavras do anjo. «A nobreza do seu coração fá-lo subordinar à
caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a
violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como
figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as
informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. O acolhimento de
José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando
uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil
(cf. 1Cor 1,27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sl 68,6) e manda
amar o forasteiro. Posso imaginar ter
sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do
filho pródigo e do pai misericordioso (cf. Lc 15,11-32). Em São José, o Carmelo
encontra um compêndio de sua espiritualidade: A pureza de coração (puritas
cordis) que torna possível a visão de Deus; a união com Maria; e a fruição da vida
mística apresentada em termos de concebimento e nascimento do Verbo Encarnado
na alma pura. Por isso, São José é celebrado como o espelho da vida mística
carmelitana em Deus. Com a
sensibilidade típica do carisma contemplativo do Carmelo, a liturgia celebrava
a pureza da Virgem e de São José em termos de disponibilidade a Deus, que torna
possível a acolhida do mistério da Encarnação. (Carta à Família Carmelitana)
Dirá Santa Teresa: "Quem não encontrar mestre que lhe ensine oração, tome
a este glorioso Santo por mestre e não errará no caminho. Praza ao Senhor não
haja eu errado em atrever-me a falar dele; porque embora publique ser-lhe
devota, no seu serviço e imitação sempre tenho falhado. Ele procedeu como quem
é, fazendo com que eu me pudesse levantar e andar e não ficasse tolhida, e eu,
como quem sou, usando mal merecimento". (cf. PC 4; Vida 6,8)
São José, “Pai com coragem criativa”. José é o homem por meio de quem Deus cuida dos
primórdios da história da redenção; é o verdadeiro «milagre», pelo qual Deus
salva o Menino e sua mãe. O Filho do Todo-Poderoso vem ao mundo, assumindo uma
condição de grande fragilidade. Necessita de José para ser defendido,
protegido, cuidado e criado. José, continuando a proteger a Igreja, continua a
proteger o Menino e sua mãe. Assim, todo o necessitado, pobre, atribulado,
moribundo, forasteiro, recluso, doente são «o Menino» que José continua a
guardar. Por isso mesmo, São José é invocado como protetor dos miseráveis,
necessitados, exilados, aflitos, pobres, moribundos. Teresa de Ávila que o
adotou como advogado e intercessor, recomendando-se instantemente a São José e
recebendo todas as graças que lhe pedia; animada pela própria experiência, a
Santa persuadia os outros a serem igualmente devotos dele. Dirá Santa Teresa:
"Tomei por advogado e senhor ao glorioso São José e encomendei-me muito a
ele. Vi claramente que, tanto desta necessidade como de outras maiores de honra
e perda de alma, este Pai e Senhor meu me tirou com maior bem do que eu lhe
sabia pedir. Não me recordo até agora de lhe ter suplicado coisa que tenha
deixado de fazer". (cf. PC 5; Vida 6,6)
São José, “Pai trabalhador”. São José era um carpinteiro que trabalhou
honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o
valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio
trabalho. Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir
uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis impressionantes,
mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um certo bem-estar,
é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que
dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo. Santa Teresa ampliará
esta tradição trazendo um grande proveito para todo o Carmelo e para a Igreja
universal. (Carta à Família Carmelitana) Dirá Santa Teresa: "Se eu fora
pessoa que tivesse autoridade para escrever, de boa vontade me alongaria a
dizer muito por miúdo as mercês que este glorioso santo me têm feito a mim e a
outras pessoas... Só peço, por amor de Deus, que faça a prova quem não me
acreditar e verá, por experiência, o grande bem que é o encomendar-se a este
glorioso patriarca e ter-lhe devoção". (cf. PC 6; Vida 6,8)
São José, “Pai na sombra”. Ser pai significa introduzir o filho na
experiência da vida, na realidade. Não segurá-lo, nem prendê-lo, nem
subjugá-lo, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir. Talvez seja
por isso que a tradição, referindo-se a José, ao lado do apelido de pai colocou
também o de «castíssimo». Não se trata duma indicação meramente afetiva, mas é
a síntese duma atitude que exprime o contrário da posse. A castidade é a
liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiramente
tal, quando é casto. O encontro de Santa Teresa com São José ocorreu num dos
períodos mais difíceis de sua vida, ela estava com cerca de 25 anos, sofreu
uma longa e penosa enfermidade e as
curas dos médicos da terra resultaram
não só ineficazes, mas também prejudiciais:
permaneceu paralisada e esgotada fisicamente e
psicologicamente. (Carta à Família Carmelitana) Dirá Santa Teresa:
"É coisa de espantar as grandes mercês que Deus me tem feito por meio
deste bem-aventurado Santo e dos perigos de que me tem livrado, tanto no corpo
como na alma". (Vida 6,6) Atribuímos à Santa Teresa a herança de um culto
intenso e da devoção josefina do Carmelo. (Carta à Família Carmelitana) Dirá
Santa Teresa: "Quisera eu persuadir a todos a serem devotos deste glorioso
Santo, pela grande experiência que tenho dos bens que alcança de Deus. Não
tenho conhecido pessoa que deveras lhe seja devota e lhe presta particulares
obséquios, que a não veja mais aproveitada na virtude; porque aproveita de
grande modo às almas que a ele se encomendam". (cf. PC 7; Vida 6,7)
SALVE SANTA TERESA DE JESUS!
SÃO JOSÉ, COM SANTA TERESA, ROGAI POR NÓS!
Estela
da Paz, OCDS.
(Estela
Maria Teresa de Jesus)
Comissão
de História.
Comissão
de Espiritualidade.
Referências:
Obras
Completas de Santa Teresa de Jesus.
Catecismo
da Igreja Católica – Quarta Parte.
Carta
Apostólica PATRIS CORDE, PP. Francisco.
Carta
à Família Carmelitana - O.Carm e OCD.